
Estudo V - A MARAVILHA DE SUAS OBRAS
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"Vendo Ele as multidões, compadeceu-Se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor" (Mt 9:36).
Mesmo a leitura mais superficial da vida de Jesus, apresentada nos Evangelhos, revela um fato interessante: Com exceção dos eventos surpreendentes referentes ao Seu nascimento, pouca coisa é contada sobre a infância e os primeiros anos de Jesus. Essa lacuna levou a toda sorte de especulação ao longo dos séculos sobre o que Cristo fez durante todos aqueles anos perdidos.
Em vez disso, a Bíblia se concentra em Sua vida adulta, especificamente os três anos e meio de Seu ministério. Que três anos e meio foram esses!
Nunca o mundo havia experimentado algo assim. Suas obras, sempre em favor de outros, e completamente sem interesse próprio, são apresentadas como evidência de que um novo dia amanhecia, o nascimento do reino de Deus. No momento em que terminou o Sermão do Monte, a cena mudou abruptamente, e Jesus mergulhou imediatamente no atendimento às necessidades do povo (veja Mt 8, 9). Para Jesus, não foram apenas palavras. Ele tinha obras mais que suficientes para sustentar Suas palavras.
O reino de Deus havia chegado, e Jesus estava lá para fundá-lo.
Quem é este?
De acordo com Mateus, a cura do leproso ocorreu assim que Jesus desceu do monte. Logo após pronunciar o Sermão do Monte, Jesus Se dirigiu diretamente à lavoura das necessidades humanas no vale. E o primeiro desafio que Ele enfrentou foi a lepra, símbolo de nossa condição humana pecaminosa. Jesus tocou o leproso, e a lepra desapareceu! Este é o poder de nosso Senhor.
No restante do capítulo 8 e no capítulo 9, Mateus descreve Jesus tendo poder sobre a natureza: Ele acalmou a tempestade (Mt 8:23-27); poder sobre os demônios: libertou o endemoninhado (vs. Mt 28-33); poder "sobre as doenças, enfermidades e fraquezas": curou o paralítico e a mulher com hemorragia (vs. Mt 1-9, 20-22); e poder sobre a morte: ressuscitou a filha de Jairo (vs. Mt 18, 19, 23-26). Fazendo uma aplicação pessoal, Jesus tem poder sobre as tempestades de nossa vida, sobre os demônios em nossa vida e sobre as enfermidades (de qualquer tipo) que nos afligem.
Qual foi a reação dos discípulos quando Jesus acalmou a tempestade? Mt 8:23-27
Em certas mitologias antigas, a água era considerada um inimigo que Deus vence. "Para Israel, as águas furiosas e incontroláveis simbolizavam os poderes que se opõem à soberania de Deus" (The Interpreter’s Dictionary of the Bible, p. 809). A reação dos discípulos também deve ser a nossa: "Quem é este que até os ventos e o mar Lhe obedecem?" (Mt 8:27). De certo modo, a exclamação deles nos remete a uma declaração no primeiro capítulo de Isaías, em que Deus chama Céus e Terra para testemunhar a determinação rebelde de Seu povo. "O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende" (Is 1:3). De toda a criação, Seu povo é o único desleal. Então, aqui bem podemos perguntar se somos as únicas entidades da natureza a erguer-nos em resistência a Jesus. Os ventos e as ondas Lhe obedecem. E nós?
A absoluta maravilha
Nem sempre prestamos atenção aos subtítulos dos parágrafos nas versões modernas da Bíblia. Mas, em Mateus 9, a New International Version, em inglês, tem um subtítulo que engloba quase toda a missão de Jesus de cura, misericórdia e poder. "Uma menina morta e uma mulher doente", diz. As palavras descrevem o desafio que Ele enfrentava constantemente durante Seu ministério. Não era o tipo de desafio que alguém pudesse vencer pelo blefe. Mas Jesus os enfrentou a todos. Naquele dia, a menina morta voltou a viver e a mulher que sofria de hemorragia, depois de 12 anos de uma vida miserável, teve um novo começo.
Medite nestas passagens. Admire-se com o maravilhoso Salvador que temos. Mt 9:27-34; Mt 14:25-31, Mt 34-36; Mt 20:29-34
Para compreender todo o poder dessas passagens, é melhor lê-las lentamente, tentando capturar seu ambiente original. Em Mateus 12:22, 23, por exemplo, o homem levado a Jesus era cego e surdo. Naturalmente, ele era também mudo. Nesse estado, você não sabe o que está se passando ao seu redor, e também não pode perguntar nada. Mas o homem encontrou Jesus e deixou Sua santa presença com os olhos escancarados e com a língua posta em louvor!
Então, pense em Mateus 15:30, 31. "E vieram a Ele muitas multidões trazendo consigo coxos, aleijados, cegos, mudos e outros muitos e os largaram junto aos pés de Jesus; e Ele os curou. De modo que o povo se maravilhou ao ver que os mudos falavam, os aleijados recobravam saúde, os coxos andavam e os cegos viam. Então, glorificavam ao Deus de Israel". E ficou ainda melhor. Mateus 14:34-36 e Lucas 6:19 dizem que as multidões procuravam tocar o Salvador, "porque dEle saía poder; e curava todos" .
O motivo por trás disso (Mt 4:23-25)
Qual era o motivo a impulsionar o ministério de Jesus? Mt 9:35, 36
A palavra compadecer-se, compaixão, é a tradução de uma palavra grega (splagchnon) que se refere às "partes internas", "os intestinos", considerados o centro das emoções no mundo antigo. A compaixão vai além da simpatia (que pode ser apenas intelectual). A compaixão vem de dentro, do coração e até mesmo dos intestinos.
Era isso que Jesus sentia. Nos Evangelhos, vez após outra, a qualidade da compaixão descreve Sua atitude para com as pessoas. Um leproso Lhe implorou: "Se quiseres, podes purificar-me." Jesus, "profundamente compadecido" lhe estendeu a mão: "Quero, fica limpo!" (Mc 1:40, 41; cf. Mt 20:29-34; Mc 10:46-52).
Sinal de um novo dia (Mt 11:2-6)
De sua cela na prisão, João Batista enviou uma mensagem urgente a Jesus: "És Tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?" . Para o leitor dos Evangelhos, essa é uma pergunta assombrosa e inesperada. Não era esse o mesmo João que, com tanta confiança, no Jordão, havia anunciado Jesus como o Messias (Jo 1:29-36)? E por que ele havia feito a pergunta justamente depois de ouvir, na prisão, o que Cristo estava fazendo (Mt 11:2)? Porém, o mais importante para nosso estudo aqui é resposta de Jesus: "Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho" (v. 4, 5).
A mensagem cifrada de Jesus a João era que Seu ministério era o sinal de um novo dia que amanhecia. Realmente, o Messias havia chegado. Seguramente, por trás das palavras de Jesus estavam as gloriosas profecias messiânicas do livro de Isaías, entre outras.
A idéia do ministério de Jesus como cumprimento da profecia e o amanhecer da era messiânica aparece claramente na interpretação de Mateus dos eventos, na maneira de ele ligar as atividades de Jesus com o contexto mais amplo, messiânico: "Para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças" (Mt 8:17; citando Is 53:4). Vemos esta mesma idéia se destacando na descrição resumida de Mateus sobre o ministério global de Jesus: "E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo Ele as multidões, compadeceu-Se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor" (Mt 9:35, 36; veja também Mt 4:23-25).
Sinal da restauração final (At 3:19-21)
A maravilhosa cura do homem endemoninhado que era cego e mudo, em vez de trazer gritos de aleluia dos fariseus, trouxe uma acusação: "Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios" (Mt 12:24). Assim, Jesus foi motivado a dar uma explicação instrutiva sobre o significado do que estava acontecendo: "Se, porém, Eu expulso demônios pelo Espírito de Deus", Ele disse, rejeitando a conclusão dos fariseus, "certamente é chegado o reino de Deus sobre vós" (v. 28). A declaração é importante, visto que, no ensino dos Evangelhos, o reino de Deus não era só uma realidade presente (como fica evidente mais diretamente na declaração acima), mas também uma realidade futura (veja Mt 26:29; Lc 23:42; Jo 18:36).
Isso significa que a obra de Cristo também se destinava à restauração final. Quando Jesus aplicou a Si mesmo a profecia básica de Isaías durante a leitura dos rolos na sinagoga em Nazaré (Lucas 4:18, 19), Ele estava proclamando muito mais do que aconteceria nos três anos e meio seguintes de Seu ministério terrestre. "O ano aceitável do Senhor", lembrando o passado, referindo-se ao antigo jubileu, era o anúncio da inauguração do reino de Deus, começando com a vinda do Messias e alcançando todos os tempos, até a consumação final, em que todos os prisioneiros serão libertados, toda visão será restabelecida, toda opressão será removida, e a alegria permeará todo o cosmo.
O sinal mais poderoso do reinado do pecado é a morte. E a restauração da vida por Jesus durante Seu ministério apontava para aquele dia final em que a morte não mais existirá. Eu sou "aquele que vive", diz o Cristo ressuscitado na visão apocalíptica de João. "Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno" (Ap 1:18). Todos aqueles a quem Jesus restabeleceu a vida durante Seu ministério sucumbiram novamente à morte. Mas Jesus olhava além disso, para a restauração final, quando "a trombeta soará [e] os mortos ressuscitarão incorruptíveis" (1Co 15:52).
"Os Evangelhos estão cheios de relatos de milagres de Jesus, mas seria engano colocar neles nossa ênfase. Por um motivo: O próprio Jesus não os enfatizou; quase todos eles foram operados com discrição, separados da multidão e como demonstração do poder da fé. Temos uma perspectiva melhor das atividades de Jesus se colocarmos a ênfase onde um de Seus discípulos a pôs. Certa vez, em um discurso a um grupo, Pedro achou necessário sumariar a vida de Jesus, e disse: ‘Ele andava fazendo o bem.’ Andando facilmente e sem afetação no meio das pessoas comuns e dos desajustados da sociedade, Ele os curava; aconselhando-os, Jesus andava fazendo o bem. Ele fazia isso com tanta simplicidade e eficiência que aqueles que estavam com Ele constantemente percebiam sua estimativa a Seu respeito afinada em um novo tom. Descobriam-se pensando que se a bondade divina devesse manifestar-se em forma humana, seria assim que Ele Se comportaria" (Huston Smith, The Illustrated World’s Religions, p. 210).
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