Estudo VI - O DESAFIO DE SUAS DECLARAÇÕES
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"Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem" (Jo 7:46).
Algumas declarações de Jesus apresentam toda uma coleção de valores em contradição radical com o que freqüentemente é considerado normal. Ele diz que devemos oferecer a outra face ao que nos fere; isto é, não devemos resistir ao mal. Evidentemente, quase todos entendem que o mal deve ser resistido, freqüentemente por todos os meios possíveis. E amar os inimigos? Os inimigos não devem ser odiados? São os amigos e familiares que devemos amar, certo? Não, de acordo com Jesus.
E a coisa fica ainda mais confusa. De acordo com Jesus, são os sem-teto, as prostitutas e outros semelhantes a eles que entrarão no reino de Deus, antes de tantos considerados justos. Como pode ser isso?
Jesus diz que são bem-aventurados os que choram, que são misericordiosos, que são puros de coração. Achamos que bem-aventurados são os ricos, os poderosos, os quem têm muita beleza e bastantes amigos, certo?
Mas nem mesmo essas declarações foram as mais desafiadoras a sair dos lábios de Jesus. Este tema examina alguns dos pronunciamentos de Jesus que caem na categoria de ditos, visto que não são ensinos no sentido estrito do termo.
Sobre o casamento e o celibato
Algumas das declarações mais duras de Jesus tratam da questão do casamento e do divórcio. Leia a passagem seguinte: Mt 19:3-12
Existe muito para pensar na pergunta dos fariseus. Note, por exemplo, a natureza machista da pergunta: "É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?". Claro, a resposta é Não, e Jesus deixou isso bem evidente. Mas o motivo real dos que perguntaram surge quando lemos o verso 7: "Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?" Indo além de Moisés, Jesus estreitou as condições para o rompimento conjugal, sendo severo com aqueles homens que desejavam repudiar a esposa. Sob uma condição, somente, Ele disse: infidelidade matrimonial. Todos os outros motivos constituiriam adultério. Chocados, os discípulos entraram na discussão: "Não convém casar", eles exclamaram. A resposta deles deu oportunidade para uma das declarações mais difíceis vindas dos lábios de Jesus.
Quem, disse Jesus, estava em condições de viver dessa forma? Mt 19:11, 12
Jesus queria dispensar os discípulos dessa instrução? Quem são esses "apenas aqueles a quem é dado"? São um grupo especial de pessoas moralmente (sexualmente) talentosas? O que devemos fazer com a referência de Jesus aos eunucos? Como podem ser explicadas as três categorias de eunucos, e como se aplicam a nós? A frase mais enigmática de Jesus vem no fim: "Quem é apto para o admitir, admita". Essa é uma concessão divina para aqueles que são fracos demais para concordar com o elevado padrão que Ele esboçou? E se é uma concessão, aplica-se a todo o discurso sobre o divórcio?
Sobre o perdão
Jesus é a incorporação do perdão. Agora voltamos ao assunto, mas para analisar se as declarações de Jesus sobre o perdão são tão simples quanto às vezes parecem.
Reflita em Mateus 18:21, 22. Que tipo de ofensas Jesus tinha em mente nesse texto? Como aplicar as palavras de Jesus aos casos de repetido abuso sexual ou físico, como pode acontecer, mesmo dentro de casa? Jesus tinha em mente ofensas muito odiosas, como quando alguém mata uma grávida, abre seu útero e rouba seu bebê ainda não nascido (como ocorreu em Melvern, EUA, em dezembro de 2004)? Será que Jesus, falando com pessoas comuns sobre ofensas, enganos e feridas comuns, que experimentamos em nossa interação normal uns com os outros, tenha dado uma ordem que não pressupõe os casos mais complexos e sinistros da criminalidade humana? O que você acha?
Conhecida pela mídia como Menina X, ela foi levada a um tribunal de Chicago em uma cadeira de rodas. Erguendo a cabeça e fazendo movimentos de olhos para se comunicar, a menina de treze anos de idade testemunhou "sobre o ataque em 1997 que a deixou gravemente inválida. Ela foi a terceira testemunha no julgamento de Patrick Sykes, de 29 anos, acusado de a estuprar, bater nela e empurrar tocos de cigarros de maconha garganta abaixo para matá-la" (Mike Robinson, Washington Post, 24 de março de 2001, p. A22).
Jesus está pedindo que as vítimas de atos odiosos perdoem não só a primeira ocorrência, mas também a sétima? Está dizendo que Deus nunca perdoará os que se acham impossibilitados de absolver os demônios em carne humana que os acometem? A questão aqui não é se devemos perdoar. Ao contrário, é se aplicamos mal o gracioso conselho do Senhor quando o colocamos a serviço das atrocidades medonhas e terríveis mencionadas acima.
Sobre a riqueza e a liberalidade (Lc 12:32-34)
Para o jovem rico que veio a Ele, Jesus disse: "Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres" (Lc 18:22). Nossa explicação dessa ordem radical normalmente é de que a determinação de Jesus foi específica para esse jovem, por causa da percepção profética sobre a necessidade do jovem. Aqui, Jesus põe o dedo no grande obstáculo entre o jovem e a salvação: o dinheiro. Mas Ele não deu essa mesma ordem a todos?
Em Lucas 12:33, Jesus parece aplicar a todos os que possuem meios o mesmo mandato que deu ao jovem rico: "Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos Céus".
Como devemos entender essa declaração? Jesus estava defendendo uma redistribuição das riquezas a todos os cristãos em todos os tempos e lugares? Que problemas práticos surgiriam se executássemos literalmente essa ordem? Pense em alguma comunidade específica, em que todos os cristãos venderam todas as propriedades e deram o resultado aos pobres. Qual é agora a condição econômica desses cristãos? Como eles se sustentam e às suas famílias? E como eles agora obtêm os meios para cumprir o resto da missão de Jesus – levar o evangelho a novas fronteiras, por exemplo?
Neste caso, três considerações podem ser úteis. Uma é notar o que realmente aconteceu durante o curso do ministério de Jesus: Seu pequeno grupo parecia ter algum capital disponível – que Judas guardava (Jo 12:6; 13:29). A segunda é examinar cuidadosamente o que aconteceu no início da igreja, entre os cristãos mais próximos ao ambiente em que Jesus fez a declaração (em Atos 4:32-37, testemunhamos o que parece ser um processo ordeiro, voluntário enquanto buscavam seguir o mandato de Jesus). Uma terceira consideração é examinar o que aconteceu no início da igreja, além do livro de Atos (nas cartas de Paulo, João, Pedro, etc. não vemos nenhuma venda em massa de propriedade).
Sobre a perfeição
Para muitos, uma das declarações mais enigmáticas de Jesus vem no Sermão do Monte: "Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" (Mt 5:48). Ao longo dos séculos, cristãos conscienciosos têm lutado para alcançar o padrão que pensam que Jesus Cristo lhes está apontando, um estado de completa vitória sobre o mundo, a carne e o diabo. Alguns têm se flagelado e açoitado; alguns saem em peregrinações; outros a buscam pela estrita guarda da lei. É verdade que o objetivo é merecedor. Mas foi isso que Jesus pediu em Mateus 5?
A linguagem aparentemente severa de Jesus em Lucas 14 é abrandada por seu paralelo em Mateus 10, que nos dá, achamos, uma compreensão melhor do que Jesus estava tentando dizer. E, considerando que na passagem de Mateus 7 sobre a oração, Jesus nos promete, se pedirmos "boas dádivas" (v. 11) (que podem nos levar a pensar apenas em coisas materiais), Lucas apresenta Jesus nos assegurando, em seu lugar, "o Espírito Santo" (Lc 11:13) – uma considerável mudança de perspectiva.
O mesmo tipo de síntese acontece no último par de textos. Onde, em Mateus, Jesus diz: "Sede vós perfeitos", "Lucas relata Suas palavras assim: "Sede misericordiosos" (Lc 6:36), que, de acordo com ambos os contextos, chega mais perto do que Jesus queria dizer. Em Lucas, o contexto fala de amarmos os nossos inimigos, e emprestarmos sem esperar qualquer coisa em troca. Assim fazendo, Jesus diz, nos tornamos "filhos do Altíssimo. Pois Ele é benigno até para com os ingratos e maus" (v. 35). Então, segue imediatamente a declaração: "Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai" (v. 36). Em Mateus, a situação é idêntica, e o verso que nos aconselha a ser perfeitos é precedido pelo conselho de amarmos os inimigos, orarmos pelos que nos maltratam e pela afirmação de que Deus envia chuva igualmente sobre o justo e sobre o ímpio. Assim, Jesus quis nos encorajar a sermos como nosso Pai celestial, que é bondoso para com todos e não mostra parcialidade. É isso que significa ser perfeito nesse contexto. É uma ordem elevada, é verdade, mas que ideal mais elevado pode um cristão se esforçar por alcançar?
Sobre a família (Jo 19:25-27)
Uma jovem se uniu ao grupo infeliz de David Koresh na década de 1990, e estava com o grupo de Waco, Texas, quando a mãe faleceu no Canadá. Quando se preparava para sair para o enterro, o carismático guru interrompeu seus planos. Não havia necessidade, ele disse, de gastar tempo e dinheiro com esses propósitos mundanos; havia coisas mais importantes para fazer na propriedade. Ela não foi e morreu na explosão que se seguiu.
As declarações de Jesus soam severas para o ouvido moderno, é verdade. Mas são realmente assim, quando você entende o que significam? No caso de deixar "os mortos sepultar os seus próprios mortos", por exemplo, o pai do discípulo em potencial tinha morrido realmente? Ou, na realidade, aquela pessoa estava dizendo: "Eu Te seguirei depois que meu pai morrer, e eu tiver assegurado a propriedade"? E como devemos entender a declaração de Jesus em Lucas 14:26 de que ninguém pode ser Seu discípulo se "não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida"? Como assinala o tema, o paralelo em Mateus lança luz sobre o significado desta declaração de Jesus, porque, no texto de Mateus, Jesus fala daqueles que amam pai, mãe, esposa etc. mais do que a Ele (veja Mt 10:37). "Na Bíblia, ‘odiar’ deve ser freqüentemente entendido simplesmente como ‘amar menos'" (SDA Bible Commentary, v. 5, p. 811). A idéia que Jesus estava tentando passar era a importância de pôr Deus em primeiro lugar.
Sem dúvida, algumas declarações de Jesus são difíceis de entender, especialmente se forem tomadas isoladamente. Mas quando as vemos em seu contexto, particularmente com outras declarações corretivas que lhes dão equilíbrio, muitas delas se tornam muito mais fáceis de entender. Mesmo então, fica muito claro que não existe sentido em seguir Jesus pela metade. Ou nos entregamos a Ele completamente, não importando o custo, ou não nos entregamos em absoluto a Ele.
"O celibato não é o estado comum, normal, e é um engano do diabo afirmar que, por si mesmo, ele possa conduzir a um estado superior de santidade que de outra forma não seria possível. Entre os judeus, o celibato era desaprovado ou era motivo de compaixão, e só era praticado por grupos de extremo ascetismo, como os essênios. ... As Escrituras declaram especificamente que Pedro era casado, e provavelmente os outros discípulos também eram. ... Jesus nunca recomendou o celibato, nem para os cristãos como um todo, nem para os líderes cristãos. O celibato não é natural e não contribui para o desenvolvimento de um caráter simétrico, como pode fazer a vida de casado.
"As palavras de nosso Senhor (em Mateus 19:12), se entendidas literalmente, seriam contrárias a todo o sentido das Escrituras. A idéia da mutilação corporal é detestável. Parece apropriado considerar essa declaração em associação à declaração de Cristo em Mateus 5:30 (sobre o corte de um membro que nos faz tropeçar)" (SDA Bible Commentary, vol. 5, p. 455, 456).
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