quarta-feira, 9 de dezembro de 2015



 
Estudo III - A REALIDADE DA SUA HUMANIDADE



"E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1:14).

Sem quaisquer explicações racionalistas, o Novo Testamento apresenta Jesus Cristo tanto humano como divino. Depois de iniciar seu Evangelho com a Palavra que é Deus (Jo 1:1), faz a declaração extraordinária de que essa mesma Palavra, esse mesmo Deus, "Se fez carne e habitou entre nós" (v. 14). Talvez, prevendo futuras indagações sobre a contaminação moral, o Novo Testamento declara sem margem para dúvidas que Jesus viveu sem pecado (Hb 7:261Pe 2:22). Além disso, os escritores do Novo Testamento consideram com naturalidade que Jesus seja objeto de adoração e reverência (At 7:59Rm 9:5Hb 1:6).

Esses primeiros cristãos não se confundiam com os problemas filosóficos inerentes ao conceito de Deus-homem, nem com as dificuldades que esse conceito criaria mais tarde aos pensadores. "A humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. ... Quando abordamos este assunto, bem faremos em levar a sério as palavras dirigidas por Cristo a Moisés, junto à sarça ardente: ‘Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.’ Êxodo 3:5. Devemos aproximar-nos deste estudo com a humildade de um discípulo" ( Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 244).

Na presença do mistério

Ao contemplar a humanidade de Cristo, também estamos na presença de um mistério profundo. Como Paulo expressou: "Grande é o mistério da piedade: Aquele [Jesus] que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória" (1Tm 3:16).
Um estudioso argumentou que a afirmação de que o fundador do cristianismo era divino não era grande novidade no mundo romano; afinal, seus imperadores habitualmente alegavam ser divinos. Mas a afirmação de que "o Deus cristão estava preocupado com a humanidade; preocupado a ponto de sofrer por ela, isso era inédito" (Huston Smith). Mas, por mais que esse conceito fosse estranho para o mundo greco-romano, este é justamente o testemunho do Novo Testamento.

Leia as seguintes passagens bíblicas:
d. Gl 4:4

É fascinante observar a precisão espontânea com que os escritores do Novo Testamento tratam o assunto da humanidade de Cristo. Com naturalidade e franqueza, eles simplesmente contam a história, provavelmente sem noção da tempestade que se seguiria nos séculos posteriores. Mas é justamente a ausência de qualquer desejo de argumentar que ajuda a dar credibilidade aos documentos que temos. Não é que os primeiros discípulos não enfrentaram controvérsia a respeito da natureza e da identidade de Jesus. Isso aconteceu, como vemos, no próprio Novo Testamento. Mas, claramente, os argumentos deles a respeito da pessoa de Jesus não se destinavam a contradizer a posição de oponentes racionalistas ou científicos, o que dá um frescor não contaminado a seu testemunho. Era como se eles contassem seu relato surpresos de que alguém ousasse duvidar do mistério incomum que os afetara tão dramaticamente, tanto coletiva como pessoalmente.

Então surgiu o conflito

Ao começar o cristianismo a se espalhar pelo mundo greco-romano e avançar à segunda geração, o povo começou a refletir em sua mensagem básica sobre a pessoa de Jesus e a suscitar perguntas: Como a divindade e a humanidade podiam existir no mesmo corpo? Como a Divindade podia se tornar mortal? Qual é a relação de Jesus para com o Pai? E assim por diante...
No início do primeiro século, duas ênfases contraditórias apareceram. Uma destacava a humanidade de Cristo às custas de Sua divindade; a outra fazia o inverso. Entre os que negavam a divindade de Cristo estavam os ebionitas, primeiros cristãos judeus que ensinaram que Jesus Se tornou Filho de Deus quando foi batizado, tornando-Se unido ao Cristo eterno, um ser não divino que não podia salvar a humanidade mas que veio chamar a humanidade à obediência. Mais tarde, no terceiro século, os arianos começaram a luta contra a divindade de Cristo, posição condenada fortemente pelo Conselho de Nicéia, em 325 d.C.

Os pesos-pesados do outro lado do espectro foram os gnósticos, que ensinavam que o espírito é bom e a matéria é má, especialmente a matéria que forma nosso corpo. Então, o corpo humano não podia servir como veículo para a revelação do Ser supremo.

Como João se relaciona com a ênfase dos gnósticos descrita acima? 1Jo 4:1-3

A controvérsia sobre quem era Jesus se estendeu por cinco séculos, desde o segundo até o sexto. A princípio, a discussão era sobre Sua divindade. Ele era Deus? Nesse caso, como Ele Se relacionava com Deus, o Pai? Então, as discussões passaram para Sua humanidade, e como a Divindade e a humanidade se combinavam em uma única pessoa. Havia declarações e refutações, pronunciamentos e réplicas, acusações, condenações e excomunhões, com uma posição após outra reivindicando possuir a verdade. Incrivelmente, em meio a todo o tumulto e controvérsia, a ortodoxia bíblica a respeito da natureza e pessoa essencial de Jesus finalmente prevaleceu.

Ele tomou nossa natureza (Gl 4:4)

Muitos dos contemporâneos de Jesus O consideravam uma pessoa incomum, mas todos eles O conheciam como ser humano, homem. Quando a mulher samaritana correu para a aldeia a fim de falar sobre o judeu incomum que ela acabara de conhecer junto ao poço, seu anúncio foi direto: "Venham ver um homem" (Jo 4:29, NVI). Seu testemunho foi semelhante ao de todos os contemporâneos de Jesus. Mesmo depois que Ele acalmou a tempestade, a exclamação dos mais próximos a Ele foi: "Que homem é este?" (Mt 8:27, NTLH).

Leia o que os textos seguintes revelam sobre a humanidade de Jesus:
a. Mt 8:24

Enquanto aqui viveu, Jesus depôs voluntariamente o exercício independente dos atributos divinos. Ele depôs, não renunciou a eles. Os atributos permaneceram em Seu poder, e Ele poderia tê-los usado em qualquer momento para Seu proveito, mas não o fez. A tentação de utilizar esses atributos para safar-Se de dificuldades (o que nos é impossível) era um ingrediente importante de Suas provações diárias.
É proveitoso ter em mente que as Escrituras não são definitivamente claras em cada ponto que desperta nosso interesse. Por exemplo, nelas não há nenhuma tentativa de dizer como os componentes humanos e divinos da natureza de Jesus se relacionavam. Mas as Escrituras deixam claro que Cristo era uma pessoa unificada. Elas não discutem os detalhes técnicos dessa união, limitando-se à confissão clara de que essa união aconteceu, que o Filho nascido de uma mulher era, realmente, o Filho de Deus (Gl 4:4). 

Para sentir nossas dores

Por que Deus precisou vir ao mundo em natureza humana? A pergunta é importante. Mas devemos nos desacostumar de respostas puramente racionais para ela. Não é como se precisássemos apresentar uma resposta que faça sentido para nós. Não existe pesquisa independente que possamos fazer em filosofia, ciência, sociologia, ou qualquer outra, que nos leve a uma resposta. Nem devemos preparar nossa própria resposta. A maneira mais segura é ouvir cuidadosamente o que a própria Bíblia revela sobre esse assunto. E, no livro de Hebreus, achamos algumas das afirmações mais claras, mais intencionais sobre o assunto. Nem é por acaso que Hebreus é também o livro que destaca mais diretamente o presente ministério sumo-sacerdotal de Jesus no santuário celestial.

As passagens seguintes destacam aspectos em particular da encarnação de Jesus.
a. Hb 2:9
d. Hb 2:18

Em cada caso, o enfoque está em Jesus; e em cada caso, o benefício é para nós. Essas razões inspiradas para a humanidade e o sofrimento de Jesus devem ser consideradas com seriedade absoluta. Elas devem nos trazer alegria imensa por saber que Jesus atende às nossas necessidades; Seus braços estão amplamente abertos para nós; Ele conhece os nossos apuros porque esteve aqui; Ele sentiu nossa dor. Podemos imaginar um Salvador mais misericordioso, um sumo sacerdote mais compreensivo e compassivo? Imensa alegria e profunda gratidão brotam no coração daqueles que sabem que Ele sofreu tudo por nós. Assim encorajados, nos aproximamos confiantemente do trono da graça, submetendo-nos a Ele em completo abandono.

Uma solidariedade eterna

Quando imaginamos a enorme diferença entre Deus e nós, é espantoso pensar que Deus tenha nos procurado e condescendido em tomar nossa natureza. Mas, depois de ter feito isso, a maioria de nós teria ficado contente em que Ele abandonasse Sua afinidade conosco e retornasse completamente ao que era antes. Porém – e isso nos surpreende absolutamente – aprendemos que Jesus vai permanecer para sempre em solidariedade conosco retendo nossa natureza!

Quais são as implicações da eterna solidariedade de Jesus conosco?
d. 1Tm 2:5

"Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruína produzida pelo pecado. Era intuito de Satanás causar entre o homem e Deus uma eterna separação; em Cristo, porém, chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado. Ao tomar nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. ‘Deus amou o mundo...’ Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua natureza humana. ... Deus adotou a natureza humana na pessoa de Seu Filho, levando-a ao mais alto Céu. É o ‘Filho do homem’, que partilha do trono do Universo" ( O Desejado de Todas as Nações, p. 25). "Cristo ascendeu ao Céu, levando uma humanidade santificada. Ele levou consigo essa humanidade às cortes eternas e, ao longo das eras da eternidade, Ele a levará, como aquele que redimiu cada ser humano para a cidade de Deus" (SDA Bible Commentary, v. 6, p. 1.054).

"Ao contemplarmos a encarnação de Cristo, sentimo-nos desconcertados diante de um insondável mistério que a mente humana é incapaz de compreender. Quanto mais refletimos sobre isto, mais surpreendente nos parece o tema. Quão imenso é o contraste entre a divindade de Cristo e a indefesa criancinha na manjedoura de Belém! Como entender a distância entre o poderoso Deus e a desajudada criança? Pois ainda assim o criador dos mundos, aquele em quem habitava a plenitude da divindade, manifestou-Se como indefeso bebê na manjedoura. Mais excelso que qualquer dos anjos, igual ao Pai em dignidade e glória, vestido agora do manto da humanidade! Divindade e humanidade combinaram-se misteriosamente, pois o homem e Deus tornaram-se um. É nessa união que encontramos a esperança para nossa decaída raça" ( A Verdade Sobre os Anjos, p. 154).


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